5 mulheres escritoras para (re)descobrir a literatura italiana
#7 Baú dos Livros
Fortemente influenciada pelo efeito Ferrante, quis explorar um pouco da literatura italiana, da qual, até à data, apenas li Moravia, Ferrante e alguns clássicos como Boccaccio e Maquiavel. Nessa pesquisa, verifiquei que nas listas dos escritores mais famosos de Itália não me apareciam nomes femininos e acabei por encontrar este artigo brilhante de Jeanne Bonner - Where Are the Great Italian Women Writers? - que me fez recordar muitas vezes o ensaio de Woolf A Room of One's One, no qual ela ficciona uma visita à biblioteca onde encontra poucas prateleiras com autoras, mulheres escritoras.
Assim, o resultado destes devaneios internáuticos foi esta singela lista de cinco mulheres escritoras italianas cujas obras me suscitaram maior interesse. Por coincidência, as cinco escolhidas têm todas obras traduzidas em português. Deixei ainda algumas menções honrosas porque custa-me sempre desperdiçar sugestões que também considerei interessantes.
Goliarda Sapienza
A escritora e actriz italiana Goliarda Sapienza nasceu na Sicília, em 1924, filha de pai advogado e sindicalista e de mãe militante, próxima do filósofo António Gramsci. Aos 16 anos vai para Roma, onde estuda teatro, interpreta obras de Pirandello e funda a sua própria companhia. Vive ali, talentosa e inquieta, nos meios intelectuais e artísticos até à sua morte, em 1996. A Arte da Alegria (1994) foi o seu quinto e último romance, recebendo fortes críticas e rejeitado por muitos. As razões pelas quais o romance foi condenado não têm que ver, pois, com o seu mérito literário, mas por ser uma obra "ideológica", marcada pelas convicções da autora, bem como pela vida destemperada de Modesta, a sua personagem principal e o fio condutor de toda a narrativa. Ambas, a autora e a sua criação, desafiam, sem falso pudor, o estereótipo da mulher submissa, respeitável e de bons costumes. A tradução portuguesa, A Arte da Alegria, publicado pela D. Quixote, encontra-se esgotadíssima, infelizmente.
Elsa Morante
Elsa Morante nasceu em Roma, em 1912, cidade onde morreu em 1985. Decidiu dedicar-se à literatura ainda muito jovem, com cerca de 18 anos. Casou com o escritor Alberto Moravia em 1941e conheceu muitos dos pensadores e escritores italianos da época. Durante a guerra, acompanhou o marido no exílio. Elsa Morante foi uma mulher que nunca aceitou ter nascido num mundo onde o amor é efémero e a indiferença ou o ódio habituais. A miúda selvagem nascida num bairro pobre de Roma, a viajante, a enamorada, a angustiada companheira de Moravia, que sonhava com o sol das ilhas napolitanas e as cores da agreste Prócida, percorreu vários continentes, passou por Portugal e viveu as duas últimas guerras mundiais, partilhando a maior parte dos sofrimentos e esperanças do século xx.
Traduzido para português encontramos A História e A Ilha de Arturo. A Ilha de Arturo é, conjuntamente com A História, um dos mais importantes romances de Elsa Morante. Na ilha mediterrânica da Prócida, assistimos à formação de Arturo, que sente uma apaixonada admiração por um pai sempre ocupado em misteriosas viagens. Já adolescente, é atraído pela sua jovem madrasta, Nunziatella. A passagem de um tempo de sonhos e ilusões para a realidade será um caminho lento e difícil para Arturo.
Margaret Mazzantini
Margaret Mazzantini nasceu em Dublin em 1961, filha de uma artista plástica irlandesa e de um escritor italiano. Foi actriz de cinema, televisão e teatro mas é sobretudo reconhecida pela sua obra literária. Venceu o prémio Strega com Não te Mexas. Mazzantini é uma das escritoras italianas mais brilhantes, retratando de forma nítida e fiel a sociedade italiana contemporânea.
Traduzido para português apenas encontramos um dos seus romances mais famosos, Não te Mexas (2001), uma história de amor trágica e não oficial entre um homem casado de classe média e uma mulher com uma vida problemática. Este romance não tem espaço para situações ou conceitos estereotipados. A narrativa leva-nos através do espectro infinito das emoções humanas.
Natalia Ginzburg
Natalia Ginzburg foi uma escritora e tradutora italiana. Natalia nasceu na capital da Sicília, em 1916, ainda que sua família tenha mudado diversas vezes de cidade durante a sua infância e adolescência. Com a ascensão do movimento de extrema direita na Itália, a família juntou-se à luta antifascista. Ginzburg foi Ativista na década de 1930 e pertenceu ao Partido Comunista Italiano. Em 1983, foi eleita para o Parlamento Italiano como independente. Morreu em 1991. Léxico Familiar (1963) é o principal livro de Natalia Ginzburg e um clássico da literatura italiana contemporânea. A narrativa acompanha a vida dos Levi, que viveram em Turim entre 1930 e 1950, período em que se assiste à ascensão do fascismo, à Segunda Guerra Mundial e aos acontecimentos que se lhe seguiram. Natalia, uma das filhas do professor Levi, foi testemunha dos momentos íntimos da família e dessa conversa entre pais e irmãos que se converteu num idioma secreto. Nesta narrativa de pendor autobiográfico os acontecimentos quotidianos misturam-se com reflexões que mantêm toda a atualidade. O livro venceu em 1963 o Prémio Strega.
Elena Varvello
Elena Varvello nasceu em Turim, em 1971. Publicou vários livros de poesia e os seus contos valeram-lhe os prémios Settembrini e Bagutta para primeira obra. Foi também selecionada para o prémio Strega. Em 2011 publicou o seu primeiro romance.
Traduzido para português encontramos o seu romance A Vida Feliz (2016) é, nas palavras da Sofia Morais, a "reflexão de um filho sobre o pai, sobre si mesmo e sobre a relação de ambos. E a perspectiva de um adolescente da vida sobre a amizade, a sexualidade, a família e o futuro. A sua integração sem interrogações na vida de estudante e na sociedade". O Público considerou A Vida Feliz um "Diário impiedoso em tom de thriller, mas que ao mesmo tempo pode ser lido como romance de formação, e como um exercício de materialização dos fantasmas do passado".
Menções honrosas: Eva Sleeps de Francesca Melandri; A Filha Devolvida de Donatella Di Pietrantonio; Café Amargo de Simonetta Agnello Hornby e; 70% Acrílico 30% Lã de Viola di Grado.