A Costa dos Murmúrios, Lídia Jorge (1988)
Ficção - Romance
Não sei se compreendi este livro. Receio que não. Ora aqui está uma premissa pouco promissora para o que abaixo escrevo.
O enredo, complexo (ainda que o estilo de escrita seja cativante), inicia-se com uma estória dentro da estória, uma espécie de relato ou de introito a um livro ou entrevista e que não coincide, necessariamente, com o relato pessoal e posterior de Eva, a personagem principal, misturam-se aqui discursos diretos e indiretos. Este é, sem dúvida, um aspeto que me causou sérias confusões ao longo do romance.
O cenário é Moçambique, Moçambique colonial da década de 70, apresentando um retrato feminino dos derradeiros anos da guerra colonial, das incongruências, da desolação, das desigualdades, da violência e do silêncio, ou deverei dizer antes, dos murmúrios? A guerra, em si, é apenas o pano de fundo, não a ação do enredo. No enredo, são as consequências quotidianas da guerra que se exploram e que se ironizam.
Queria muito escrever que este livro me arrebatou a alma, mas não consigo. Não consigo, apesar de me ter deliciado com a poesia narrativa de Lídia Jorge. Há algo de primaveril no estilo de escrita de Lídia Jorge, pequenas ideias que florescem e que criam sementes no leitor, mesmo quando descreve a desilusão, o inóspito, a crueldade e a desumanidade, ou então palavras que brotam e que desconhecemos o sentido, obrigando-nos a uma constante busca por significados e interpretações.
No entanto, perdi-me na cronologia, perdi-me entre a realidade da ficção e a ficção da ficção, perdi-me e perdi o fio condutor do romance. Cheguei ao final consciente de que precisava de regressar ao início, mas sem vontade. Que contradição. É um livro que precisa de tutor, no sentido figurado ou botânico, um tutor que não tive, mas que vou arranjar.
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