A Invenção da Natureza (2015), Andrea Wulf
Não Ficção - Biografia - Ciência - História
Este livro não só é uma excelente biografia do fantástico Alexander Von Humboldt, como também é um livro que retrata o pensamento deste naturalista e aventureiro. Alexander poderá até ser considerado um visionário e profeta, pelos argumentos e pensamentos que exprimia, relativamente às ações humanas no meio ambiente (que irei referir mais adiante).
Citando o New York Review of Books (2015) esta é “Uma biografia espantosa. (…) Humboldt pode ter sido esquecido, mas as suas ideias nunca estiveram tão vivas”. O próprio título refere Humboldt como “o herói esquecido da ciência”, o que de facto é verdade, não me lembro de uma vez ter visto o seu nome nos livros escolares de história, é por isso que acho importante a recomendação deste livro, é maravilhoso ler sobre todos os seus feitos e aventuras.
O livro começa por abordar a infância e o crescimento de Humboldt. Nascido a 14 de setembro de 1769 no Reino da Prússia, era o irmão mais novo de Wilhelm Von Humboldt. O seu pai era militar e a sua mãe descendente de uma família endinheirada. Desde o início o estatuto de Alexander prometia um futuro com várias portas abertas, começando pela facilidade de adquirir estudos. O seu pai incentivou nos dois filhos uma educação com base nas ideias do iluminismo, “(…) que lhes instilaram o amor pela verdade, pela liberdade e pelo conhecimento.” (Wulf, A. 2015). Retrata ainda a sua vida em jovem antes de ter embarcado na viagem que mudaria a sua vida. Era amigo chegado de Johann Wolfgang “Goethe” um famoso escritor alemão autor de obras como “Fausto”, no entanto para surpresa de muitos era também um aficionado da natureza algo que tinha em comum com Humboldt. Os dois discutiam métodos e técnicas de observação de plantas, flores, animais e outros temas durante horas e horas.
O livro torna-se entusiasmante, quando Alexander embarca numa expedição à América do Sul onde permaneceria por 5 anos, subindo montanhas, andando por florestas tropicais e até se aventurou por rios bravos. Juntou milhares de exemplares de plantas, das quais grande parte não eram conhecidas na Europa. Durante esta temporada nas Américas, Humboldt fez alusão às condições dos escravos e condenou esta ação, apoiando que os povos se revoltassem pela sua liberdade. Teve ainda contacto com Simón Bolívar (militar e líder político), que uns anos mais tarde viria a lutar pela independência das nações sul americanas. Foi ainda durante a sua expedição que desenvolveu o que viria a chamar de “Naturgemälde” – uma pintura da natureza onde são incorporados dados sobre os mais variados elementos. Alexander usou esta técnica quando pintou a montanha do Chimborazo no atual Equador, onde colocou em colunas laterais informação sobre a altitude, latitude, estado da atmosfera entre outros elementos e ainda as várias plantas que podiam ser encontrados nos vários “patamares” da montanha. Alexander Von Humboldt foi a primeira pessoa a falar publicamente sobre a relação entre o homem e a natureza e os efeitos das ações antrópicas no ambiente e atmosfera, fazendo referência ao que hoje tratamos por “alterações climáticas” e a necessidade de alcançar a sustentabilidade enquanto sociedade. Hoje mais do que nunca os argumentos de Humboldt são valorizados.
Após regressar da expedição de 5 anos, Humboldt continuou os seus estudos, dava palestras em diversas universidades, incluindo a universidade de Berlim fundada pelo seu irmão Wilhelm, e tornou-se ainda membro da corte real. No seu regresso, Humboldt apercebeu-se também da sua influência, era agora adorado por todos e conhecido por toda a “gente importante” e mantinha contactos com pessoas como Thomas Jefferson.
O livro conta ainda com várias personalidades do mundo da ciência que foram inspiradas por Humboldt. A que talvez se destaque mais é Charles Darwin, autor da influente obra “A Origem das Espécies”. Em jovem era um grande aficionado de Humboldt, tinha todos os exemplares das suas obras. A vontade e o interesse em estudar a evolução das espécies, teve início quando estudava as teorias de Alexander querendo ir mais longe, dando continuidade a alguns dos seus estudos.
É de salientar que Alexander viveu grande parte da sua vida no limiar da pobreza pois gastava o que ganhava a ajudar outros jovens cientistas, que queriam viajar e estudar o mundo tal como Humboldt fez desde jovem.
Poderia continuar a escrever muito mais sobre este magnífico naturalista, no entanto acho que esta pequena avaliação pessoal é suficiente para demonstrar que este “herói” não deve ser esquecido, mas sim celebrado! Antes demais quero apenas referir o bom trabalho da escritora deste livro – Andrea Wulf – por ter conseguido trazer a todos os leitores a história de Alexander Von Humboldt. Este livro engloba todo o conhecimento necessário adquirir para aqueles que gostem de ciência, mas também para aqueles que gostem de ler sobre personalidades cuja história vale a pena ser contada, lida neste caso! 😉
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