A Morte Feliz (1971), Albert Camus
Ficção - Filosofia - Clássicos
A Morte Feliz é a primeira obra de Albert Camus, escrita entre 1936 e 1938, ainda que apenas tenha sido publicada postumamente em 1971. Considerado como a antecâmara daquele que viria a ser o livro mais famoso do autor (O Estrangeiro), em A Morte Feliz acompanhamos Patrice Mersault no seu dia a dia e na sua incessante busca pela felicidade.
Os paralelismos com O Estrangeiro são muitos. Por exemplo, ambas as personagens principais são escriturários e ambos cometem assassínio. Até os nomes das personagens são parecidos!
O livro divide-se em duas partes. A primeira é um retrato da monotonia e repetição do dia a dia de Mersault em Argel. Contudo, é neste início que conhecemos Zagreus, um homem de meia idade, rico e inválido, mas que surge como uma luz ao fundo do túnel para a vida de Mersault, ao afirmar que "a felicidade é uma coisa possível, desde que haja tempo, e que ter dinheiro é a única maneira de se libertar do domínio do tempo". É depois desta conversa que Mersault decide cometer tão atroz crime.
Na segunda parte, seguimos Mersault na sua busca pela felicidade e tranquilidade. No seu repentino abandono da terra natal, na sua viagem pela Europa onde começa a mostrar sinais de doença. Uma segunda parte que se inicia inquietante e desassossegada, talvez pela assombração do terrível crime. Por fim, Mersault decide regressar a Argel e, aparentemente, a sua busca pela felicidade é alcançada. Ainda que haja sempre uma sensação de descontentamento, de incompletude. Mersault morre feliz, consciente da vida e consciente da morte, mas sozinho e numa indiferença apática.
Confesso que durante a leitura senti sempre algo de opressivo na escrita do autor. Ainda que me seduza a ideia da felicidade e do tempo e acredite que a felicidade está intimamente relacionada com a liberdade, não consigo criar um elo de causalidade absoluto entre a felicidade e o dinheiro. Não que não estejam relacionados, mas a simbiose não é total, não pode ser... não deve ser.