Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Queirosiana

Blogue sobre livros, leituras, escritores e opiniões

Circe, Madeline Miller (2018)

Ficção - Fantasia - Mitologia

27.09.19

91c0yRVm+0L.jpg

Circe, publicado em 2018 tornou-se, em poucas semanas, num dos meus livros preferidos. 

Circe é conhecida de muitos como a deusa da magia, a bruxa ou feiticeira na mitologia grega, filha do deus do sol, Hélios, e da ninfa Perseis.  Personagem da epopeia de Homero, Odisseia, Circe surge-nos retratada como uma poderosa feiticeira capaz de transformar homens em porcos, sedutora, vingativa, possessiva, ciumenta. No Renascimento, Circe torna-se no arquétipo da mulher predatória, tornando-se um num misto de figura a quem se tem medo e desejo. 

Em Circe, Madeline Miller vem destruir todos estes pré-conceitos, contando-nos a história de uma mulher que se emancipou e libertou. Madeline Miller juntou todos as histórias clássicas em torno de Circe e criou algo novo, recontando a história de vida desta personagem, na primeira pessoa, de uma perspetiva feminista. 

Enquanto leitores somos convidados a acompanhar a vida da personagem principal, Circe, desde a sua juventude nos corredores do palácio do seu pai, o Titã Hélios, à sua transferência para a ilha de Aiaia, na condição de exilada (por ter desafiado os deuses com a sua magia), até à sua última e derradeira decisão, quando abandona a ilha que a aprisionou e libertou, em simultâneo. Nos entretantos, vamos conhecendo várias personagens que se cruzam na vida de Circe, o Minotauro, Dédalo, o monstro Scylla (criado pela própria Circe), Medéia, Odisseu, Hermes, Atenas, Telémaco, e tantos outros!

Madeline Miller recria os próprios mitos dentro da mitologia, transformando todos estes episódios num ensinamento, lição e aprendizagem de Circe, que servirão para a sua libertação e emancipação. 

A "má reputação" de Circe dada pelas inúmeras histórias contadas ao longo de séculos é, nesta obra, reinventada. E no fundo, a essência da personagem Circe em Circe, é precisamente essa, a de uma mulher que se cria e inventa por si e em si. 

Com Circe, Madeline Miller cria um verdadeiro épico, à semelhança de Odisseia - mas aqui o foco é a personagem feminina, livre das narrativas masculinas e enredos mitológicos que a transformaram numa bruxa odiada pelos homens - aqui conta-se a sua história, o seu percurso de divindade à mortalidade e a sua luta num mundo de homens onde, ser mulher e deter poder é uma gritante ameaça. 

"Circe de Madeline Miller é uma carta de amor para a primeira bruxa da literatura". 
 

bertrand.jpg

 

3 comentários

Comentar post