Húmus (1917), Raul Brandão
Ficção - Clássicos
Publicado em 1917, Húmus demoraria ainda largas dezenas de anos a ser incluído na estante das grandes obras nacionais. Herberto Hélder foi talvez o escritor que mais divulgou a obra de Raul Brandão e a fez chegar ao seu legítimo lugar como um dos maiores clássicos da Literatura Portuguesa.
Atordoada. Angustiada. Fascinada. Sensação semelhante, só depois de uma Metamorfose de Kafka, umas Ondas de Woolf ou um Ivan Ilitch de Tolstoi. Húmus deixa-nos trôpegos, como se uma mão invisível alcançasse o âmago da existência - aquela pedra filosofal que nos anima o espírito - e nos sacudisse brutalmente. Sinto-me despojada.
Não é uma leitura ligeira, embora não tenha uma dimensão assustadora, o seu conteúdo é monumental e um absoluto apelo à introspeção e silêncio. A escrita é pungente e contemplativa, ainda que nem sempre lhe tenha compreendido o sentido, a forma como Brandão disseca a natureza humana é abissal.
Húmus não conta uma história, não acompanha personagens, interpela o leitor numa espécie de diário mas sem estrutura narrativa, pelo menos a que estejamos acostumados. Em Húmus questiona-se a vida, a morte e o transcendente. É um livro eminentemente filosófico e existencialista, sim. A sua leitura é complexa e difícil será dizer que se compreendeu todo o seu sentido. Contudo, em Húmus, Raul Brandão toca profundamente o medo, primário e primitivo do ser humano, e assalta o leitor de rompante colocando-o sós a sós com a [sua] alma.
Mas que assombro!
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