Mulheres e Poder: um manifesto (2018), Mary Beard
Não-ficção - Ensaio - História - Feminismo
Este é um ensaio essencial para reflectir sobre a voz das mulheres no espaço público. A sua autora, Mary Beard, professora na Universidade de Cambridge, desenvolveu este ensaio com base em duas conferências que apresentou em público sobre a temática em 2014 e 2017.
Nesta obra, dividida em duas partes: "A Voz Pública das Mulheres" e "Mulheres no Poder", Beard analisa de forma incisiva a forma como as mulheres com poder têm sido tratadas ao longo da história - recorrendo aqui a vários exemplos da Antiguidade Clássica, na qual ela é mestre. Reflecte também sobre a misoginia e sobre as estruturas e narrativas do poder.
Renomada classicista como é, Mary Beard, apresenta-nos vários exemplos da Grécia e Roma Antiga. Desde logo, a história de Telémaco e Penélope, de Maesia, de Afrânia, de Hortênsia, de Lucrécia, de Lisístrata e de Lavínia.
Mas não só, demonstra também como ao longo da história se tem masculinizado o discurso das mulheres que adquirem poder ou pelo menos transformando-as numa versão andrógina.
Foi aqui que também pela primeira vez ouvi falar da obra Herland, de Charlotte Perkins Gilman, uma história ficcional sobre uma nação constituída por mulheres, e mulheres apenas e que viviam numa verdadeira utopia, numa existência pacífica, colaborativa e brilhantemente organizada - bem, pelo menos até aparecerem três americanos que descobrem esta utópica nação. Fiquei deveras curiosa por ler esta obra, recordando-me das semelhanças com Utopia de Thomas More.
Este ensaio derrubou também uma das minhas utopias femininas, refiro-me ao mito das amazonas. Beard faz-nos compreender a subversão latente na criação desse mito grego, "a verdade pura e dura é que as amazonas eram um mito grego masculino (...) a ideia subjacente era que o dever dos homens consistia em salvar a civilização do domínio das mulheres". Mas não só, depois de ler este ensaio, nunca mais olharei para a história da Medusa e a sua decapitação com os mesmos olhos - na medida em que essa representação clássica continua ainda hoje a ser um símbolo cultural de oposição ao poder da mulher.
Nas palavras de Rachel Cooke, este é um clássico feminista moderno, de leitura obrigatória, acrescento eu.
Já agora, não deixem de acompanhar o blog de Mary Beard, A Don's Life.