Night and Day (1919), Virginia Woolf
Ficção - Romance - Clássicos
Ora aqui está um romance de Virginia Woolf que ficou aquém, pelo menos para mim. Não em termos de escrita, Woolf é uma verdadeira mestre das palavras e sensações, mas em termos de enredo, terminei o livro com uma sensação agridoce e de incompletude.
Night and Day (Noite e Dia) foi o segundo romance da escritora e gira em torno das contradições do mundo ou da nossa existência: aquilo que somos e o que demonstramos ser; aquilo que dizemos e o que silenciamos; aquilo que fazemos e aquilo com que sonhamos. Este romance é tanto uma história de amor quanto uma comédia social, minando subtilmente tradições e maneirismos, questionando o papel da mulher e a própria natureza da experiência.
Em Night and Day (1919), tal como em The Voyage Out (1915), a estrutura narrativa é ainda a convencional e nada semelhante às obras mais tardias da autora. Mas, confesso, em muitos momentos, a leitura tornou-se morosa e a entrada e saída de personagens em muito se assemelhava a uma peça de teatro, como se entrassem, declamassem as suas deixas e saissem de cena. Night and Day, por vezes, "cheira" a Mrs. Dalloway (1925), quando pensamos nos pequenos eventos do nosso dia a dia, quase indiferentes, mas que constroem a teia das nossas vidas.
A obra gira em torno de três personagens, Katherine, Ralph e Mary.
Katherine Hilbery é uma jovem mulher, bonita, privilegiada, que gosta de estudar matemática (alguns estudiosos acreditam que é inspirada na irmã de Virginia, Cassandra), mas não tem certeza do seu futuro. No decurso de romance, Katherine é colocada perante várias escolhas, ficar noiva do poeta estranhamente prosaico, William Rodney, ou deixar-se levar pela sua atração por Ralph Denham. Enquanto Katherine trava esta luta interior, a qual o leitor acompanha de perto em todos os seus pensamentos e contradições, a vida da ativista dos direitos das mulheres, Mary Datchet, afeta a vida de Katherine de forma inesperada e com intrigantes consequências.
Infelizmente, explora muito pouco a personagem de Mary Datchet, a mulher independente e emancipada da época Vitoriana, provavelmente aquela com maior potencial. Em muitos aspetos, gostava que o foco do romance fosse Mary e não Katherine. Ainda assim, com Mary, o romance aborda inúmeras questões como o trabalho feminino, a desigualdade salarial entre mulheres e homens, a luta pelo sufrágio universal.
Já com Katherine e Ralph, o leitor é envolvido em sonhos e realidade. Questionando o que é o amor, em que medida amamos o real e não a imagem que criamos do outro - confesso que este debate, que permance sem resposta ao longo de vários capítulos é muito interessante.
Longe de estar na lista de favoritos, Night and Day é Woolf e, portanto, vale sempre a pena, nem que seja pela deliciosa linguagem escrita que nos proporciona, ou a capacidade de nos fazer olhar para dentro sem filtros.