O Segundo Sexo Vol. I, Simone de Beauvoir (1949)
Não-ficção - Feminismo - Filosofia - Clássicos
Esta obra é um peso pesado, um tratado feminista, um essencial, uma referência! Dividido em dois volumes, pelo menos nas edições Quetzal, encontramos no 1.º volume uma autêntica tese dos factos e mitos sobre a(s) mulher(es). Publicado em 1949, e feitas as devidas reservas de contexto temporal, espacial e filosófico, O Segundo Sexo de Beauvoir assume-se - ainda - como uma obra atual e, infelizmente, em muitos aspetos, não ultrapassada, sobretudo no que aos mitos sobre a mulher e a feminilidade diz respeito. A verdade é que, lendo em 2019 uma obra com 70 anos, somos ainda surpreendidas e sobressaltadas pela imutabilidade de certos pré-conceitos em relação à(s) mulher(es).
Este livro de Beauvoir segue a sua concepção filosófica do mundo, os seus ideais e, por isso, projeta-se numa perspetiva vincadamente feminista e existencialista - tendo-se tornado num marco básico do pensamento feminista ocidental. No entanto, à luz das mais recentes teorias feministas, a apresentação dual do feminino/masculino em O Segundo Sexo deve hoje ser esbatida.
Beauvoir transporta-nos por várias áreas da ciência - da biologia, à psicanálise e à filosofia, passando pela literatura e refletindo sobre os mitos sobre a(s) mulher(es), muitas vezes reforçados pela ciência e literatura, ao longo da história, expondo assim a nu a estrutura patriarcal da(s) sociedade(s) ocidental(ais) e da "condição" feminina nessa estrutura.
Defendendo, de forma pioneira, a liberdade das mulheres, em todos os aspetos da sua vida; apontando o dedo às desigualdades de oportunidades e aos desequilíbrios de poder, ao silêncio forçado das mulheres no espaço público e económico, bem como às representações, categorias e papéis sociais atribuídos a mulheres e homens. Beauvoir acentuou, igualmente, a importância do corpo e de como as mulheres estão em constante tensão/conflito entre a liberdade e a alienação do seu corpo pela Natureza, fazendo realçar as questões associadas àquilo que hoje denominamos como direitos sexuais e reprodutivos.
Como referi acima, Beauvoir foca-se bastante da dualidade dos sexos, masculino e feminino, assentando o seu pensamento no conceito de que enquanto as mulheres forem encaradas como "O Outro", existirá sempre uma guerra de sexos - que apenas será ultrapassada no momento em que mulher e homem se considerarem semelhantes e partilharem o mundo de forma igual, é esse, aliás, o elogio que tece a Stendhal, por tornar semelhantes mulher e homem, nas suas obras literárias.
Segue-se agora nova aventura, a de iniciar o 2.º volume - A experiência vivida.
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