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Queirosiana

Blogue sobre livros, leituras, escritores e opiniões

The Yellow Wallpaper, Charlotte Perkins Gilman (1892)

Contos - Horror/Gótico - Feminismo - Clássicos

24.09.19

Trata-se apenas de uma shortstory publicada em 1892, mas dada a sua relevância nos estudos feministas, considerei importante fazer esta resenha, na medida em que, efetivamente, nas suas curtas páginas, esta história encerra em si profundas interpretações sobre a condição feminina nos finais do séc. XIX, ainda que revele laivos de sobrenatural. 

Contado na primeira pessoa, por uma mulher cujo nome desconhecemos, esta shortstory é pioneira na literatura feminista norte-americana, ao debruçar-se sobre a questão da saúde mental e física da mulher. 

Ao estilo de diário, esta personagem feminina vai revelando ao autor uma espécie de reclusão forçada pelo marido (que é médico), numa casa de campo afastada de tudo e de todos, por este considerar que ela se encontra num estado de depressão nervosa temporária ou histeria (diagnóstico muito comum dado às mulheres nesta época). Passando o tratamento por esta reclusão, por uma proibição de fazer o que quer que seja, sendo incentivada a alimentar-se bem e a descansar. O próprio ato de escrever está-lhe expressamente proibido, tanto que o faz às escondidas. 

A shortstory trata de uma crítica expressa àquilo que Gilman experienciou na primeira pessoa, quando diagnosticada com a tal depressão nervosa temporária ou tendência histérica, as então chamadas "curas de repouso" ou "curas de sono" que exigiam o mínimo estímulo possível e uma quase passividade da paciente perante a vida. 

Na shortstory, a escritora leva esta ausência de estimulação ao extremo, gerando quase uma psicose na personagem que, à falta de melhor, começa a tornar-se obcecada pelo padrão do papel de parede que parece "observá-la" ou ter gente (mulher ou mulheres) presas atrás dele. 

A interpretação feminista desta shortstory é apresentada como uma crítica ao controlo masculino da profissão médica no séc. XIX que reduzia a mulher paciente a um estado de incapacidade de compreensão da sua condição e de limitação à esfera doméstica, bem como ao seu silenciamento.  Se tiverem oportunidade, espreitem este artigo de Martha J. Cutter "The Writer as Doctor: New Models of Medical Discourses in Charlotte Perkins Gilman's Later Fiction", que retrata precisamente a questão do discurso médico patriarcal no séc. XIX. 

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